A implantação da informática na educação (Valente, 1991) consiste basicamente de quatro ingredientes: o computador, o software educacional, o professor capacitado a usar o computador como ferramenta educacional e o aluno. O software educacional tem tanta importância quanto os outros ingredientes, pois sem ele o computador não poderia ser utilizado na educação Desta forma, é preciso que o educador procure aspectos considerados positivos no software a ser utilizado em suas aulas, visando ampliar a inteligência. A inteligência por muito tempo foi vista essencialmente como uma capacidade lógica, sendo que os testes de QI são baseados em raciocínios lógico-matemáticos e lingüísticos.
Hoje em dia, muitas outras vertentes da inteligência em suas múltiplas combinações são pesquisadas. Pode-se dizer que a inteligência é a capacidade de descobrir, inventar e trabalhar com relações de qualquer tipo. Neste sentido, um software pode favorecer, por exemplo, a descoberta, que é mais fácil que a invenção. A descoberta de uma relação pode estar baseada em indícios ou não, de acordo com o nível de abstração de quem observa.
Potencialmente, o caminho de agilização da inteligência via a abstração reflexiva, pode ser trabalhada em um software, quando este provoca a criança a pensar, num desafio lúdico, onde ela não se sente por demais pressionada. Quanto mais for incentivada a descobrir relações, mais passará a inventar relações, que podem ser temporais, objetais causais ou espaciais. A criança passará também a fazer combinações entre estas relações.
Ilustrando, o software pode, por exemplo, proporcionar situações onde a criança seja desafiada a trabalhar com o aqui e com o que está distante, para depois seriar nesta trajetória várias distâncias, relacioná-las entre si, descrevê-las e compor situações. A composição pode evoluir da articulação de dados entre si à combinatória de hipóteses, o que supõe a transposição dos dados da realidade para proposições verbais, com a utilização da lógica formal. Vemos como o tempo toda a inteligência trabalha conciliando as diversas linguagens.
Uma das grandes vantagens do computador é que ele dá um retorno visual e auditivo(perceptivo) daquilo que a criança compôs virtualmente, o que lhe serve para reformular seus projetos e idéias. Com isso, aprende também a fazer pesquisa.
Um software deve levar em conta características formais e de conteúdos, como qualquer instrumento de ensino-aprendizagem. Do ponto de vista Piagetiano, ao se analisarum software, devem ser levados em conta aspectos formais, verificando se “ele está ajudando a criança a desenvolver a sua lógica, a raciocinar de forma clara, objetiva, coerente, criativa?”e aspectos em relação a conteúdo, ou seja, “a temática deste software tem um significado atraente para a realidade de vida desta criança?”. Deve-se sempre conjugar forma e conteúdo, sintaxe com semântica.
Os softwares educacionais que podem ser encontrados no mercado (Valente, 1993)podem ser divididos em algumas categorias: tutorial, exercício e prática, simulação, sistemas hipermídia e jogos educacionais. E, dependendo do tipo a ser utilizado (Gladcheff,1999), o software poderá favorecer aspectos específicos no desenvolvimento da criança.
Os softwares do tipo tutorial que constituem uma versão computacional da instruçãoprogramada, podem ajudar a criança a desenvolver sua autonomia, a cortar o cordão umbilica da presença física do tutor. Este tipo de software também pode ajudar a criança a fazer uma auto-análise de como está pensando, pois ela tenta identificar, localizar seu erro e relacioná-lo com o que ocorreu antes e com o que ocorreu depois.
Referências:
Revista Brasileira de Informática na Educação – vol 8, Abril 2001 – pág. 63-70